Custo Carrego! Desde o início do plantio da soja, acompanhamos expectativas sobre a elevação do preço do grão, impulsionadas principalmente por fatores climáticos adversos. No entanto, a realidade tem se mostrado desafiadora para os produtores, com uma redução significativa de cerca de R$25,00 por saca em algumas regiões. Diante deste cenário, surge um dilema comum entre os produtores: vender ou não vender a soja agora? Esta decisão se torna ainda mais complexa quando consideramos o custo carrego associado à retenção do grão na expectativa de melhores preços.
O Dilema do Custo Carrego
O custo carrego é um conceito crucial na agricultura, referindo-se aos custos adicionais incorridos ao armazenar a produção com o objetivo de vendê-la a um preço mais alto no futuro. Esses custos incluem, mas não se limitam a, despesas financeiras (juros de empréstimos ou créditos), custos de armazenagem, e potenciais perdas de qualidade do produto.
Analisando o Cenário
Consideremos um cenário hipotético onde o preço da soja esteja em R$100,00 por saca, valor que, para alguns, não justifica a venda devido à margem atual estar zerada ou negativa. Se um produtor decide não vender neste preço e optar por armazenar sua produção por seis meses, buscando um cenário mais favorável, ele enfrentará diversos custos.
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Supondo uma taxa de juros de 14,5% ao ano (ou 1,13% ao mês) para o crédito obtido para financiar essa espera, temos um acréscimo de R$1,13 por saca a cada mês. Além disso, o custo de armazenagem pode ser estimado inicialmente em R$3,00 por saca, com um acréscimo de R$0,25 por quinzena após um determinado período.
Calculando o Break-Even
Após seis meses, considerando juros e custos de armazenagem, o preço de venda mínimo para cobrir todos esses custos adicionais seria aproximadamente R$112,00 por saca. Isso significa que para o produtor se manter na mesma posição financeira como se tivesse vendido a R$100,00 no início, ele precisaria vender a soja a no mínimo R$112,00.
Abaixo, apresentamos uma matriz de valor equivalente do mês 0 a mês 9.
Se for considerar uma proteção de queda para estancar as perdas e garantir o mínimo, ainda teríamos que adicionar mais um valor na conta, mas vamos manter básico.
Lembrando que, por estar com o grão, o risco de base e de queda dos preços pode piorar ainda mais a conta.
Vale a pena assumir esse risco agora?
Cenário em que os preços continuem de lado no físico, ou caírem mais, o preço final de venda pode ficar inferior aos custos assumidos nesta operação!
Analisando o Impacto do Custo Carrego na Estratégia de Comercialização Agrícola
A decisão de segurar a venda da soja, adiando-a na esperança de alcançar preços mais elevados, implica diretamente no aumento do custo carrego. Esse cenário requer uma avaliação detalhada, pois o custo carrego não se limita apenas aos aspectos financeiros, como juros de empréstimos e custos de armazenamento, mas também engloba o risco de depreciação do valor do grão em função de mudanças no mercado e na qualidade do produto armazenado.
Ao considerar o custo carrego em suas estratégias de comercialização, os produtores podem fazer escolhas mais informadas, ponderando entre os benefícios potenciais de preços futuros mais altos e os riscos e custos imediatos de manter a soja estocada. Portanto, a análise do custo carrego se torna uma ferramenta essencial na tomada de decisão para a gestão eficaz da comercialização agrícola.
Riscos e Considerações
É importante ressaltar que manter a soja esperando por um preço melhor não só incide em custos diretos como também expõe o produtor a riscos de mercado, como a volatilidade dos preços e a possibilidade de deterioração da qualidade do grão.
Para obter um lucro de 3% sobre essa operação, o preço da soja precisaria alcançar pelo menos R$115,00 por saca. Para um lucro de 7%, o preço deveria ser superior a R$120,00 por saca. Estes valores refletem o desafio e o risco assumido ao optar por carregar o custo na esperança de uma alta significativa nos preços.
Conclusão
A decisão de vender ou reter a soja deve ser cuidadosamente ponderada, levando em consideração os custos de carrego e os riscos associados. Cada produtor tem suas particularidades, como capacidade de armazenagem, fluxo de caixa e compromissos financeiros, que influenciam essa decisão.
Assim como as práticas agrícolas são planejadas com antecedência, a comercialização da soja deve seguir uma estratégia bem definida. Explorar diferentes mecanismos de venda e proteção de preço pode ser uma abordagem prudente para mitigar riscos e maximizar os retornos.
E você, produtor, como está posicionado neste cenário? A troca de experiências e estratégias é fundamental para navegar neste mercado volátil. Compartilhe sua visão e vamos discutir as melhores práticas para a comercialização da soja!
Certificado pela ANCORD e CEA, possui registro na CVM para atuar no mercado financeiro.
Atualmente, desempenha o papel de consultor de comercialização agrícola na Hedge Agro Consultoria.