Introdução
O autocross é um esporte único no Brasil. Diferente do automobilismo tradicional em asfalto, ele acontece no barro, em pistas improvisadas ou adaptadas, com carros construídos para aguentar a poeira, os saltos e a adrenalina da chamada velocidade na terra. Mas o que mais chama atenção é a forte conexão entre essa modalidade e o agronegócio. Afinal, boa parte dos pilotos são agricultores e empresários do campo.
No episódio 38 do HedgeCast, recebemos Gian Pasquali, CEO do Autocross Brasil, para entender por que essa corrida é chamada de “o esporte do agro”. Neste artigo, você confere os principais pontos dessa conversa: a história da categoria, o campeonato atual, curiosidades técnicas, impacto econômico e as perspectivas para o futuro.
A origem do autocross no Brasil
O autocross nasceu como uma versão acessível do automobilismo, em que carros adaptados corriam em pistas de terra batida. No Brasil, a modalidade começou de forma quase artesanal em cidades do interior, onde o público lotava arquibancadas improvisadas para ver pilotos locais acelerando.
Você também pode gostar de: Jornada Hedge Agro
Com o tempo, o esporte foi se organizando até chegar ao formato atual, com campeonato nacional, calendário definido e transmissão ao vivo. Segundo Gian Pasquali, a conexão com o agro vem desde o início: “O Autocross é o esporte do agronegócio, porque nasceu onde o campo é forte, e é disputado por quem vive do campo.”
O Autocross como esporte do agronegócio
Diferente de outras modalidades, o grid do autocross é formado quase integralmente por agricultores. Produtores de soja, milho, algodão e pecuaristas dividem espaço com filhos de produtores e empresários ligados ao campo.
Perguntamos a Gian se hoje todos os pilotos são agricultores, e a resposta foi clara: sim, praticamente todo o grid está ligado ao agronegócio. Eles vêm principalmente de Mato Grosso, Goiás, Bahia e Mato Grosso do Sul — regiões que concentram algumas das maiores áreas agrícolas do planeta.
Um dado impressionante: juntando os hectares de todos os agricultores que competem, o grid representa mais de 2 milhões de hectares cultivados. Ou seja, cada corrida é também um encontro de grandes produtores rurais, reforçando a identidade do autocross como esporte do agro.
Como funciona o campeonato brasileiro de autocross
O campeonato nacional é dividido em etapas ao longo do ano, realizadas em cidades estratégicas para o agronegócio. Entre os polos mais importantes estão:
-
Luís Eduardo Magalhães (BA) – polo da soja e algodão.
-
Rio Verde (GO) – forte em milho e pecuária.
-
Mato Grosso – maior produtor agrícola do país, com Cuiabá sediando a final.
Cada etapa movimenta centenas de pessoas: pilotos, mecânicos, famílias, organizadores e público local. As provas são transmitidas em canais digitais, como o YouTube, ampliando a visibilidade da modalidade.
Curiosidades e bastidores do autocross
Além da competição, o autocross desperta curiosidade pelos bastidores:
-
Custo de um carro: construir um carro competitivo pode variar entre R$ 80 mil e R$ 150 mil, dependendo da tecnologia e preparação.
-
Velocidade: mesmo em pistas de terra, os carros podem ultrapassar 160 km/h em retas curtas.
-
Manutenção: como o barro e o salto exigem muito do carro, as equipes trabalham intensamente entre as baterias para manter o veículo apto.
-
Pistas de referência: cidades como Cuiabá e Rio Verde são vistas como referências por infraestrutura e tradição.
Segundo Gian Pasquali, o que o público não vê é a logística: transportar carros e montar pistas do zero em poucos dias é um desafio comparável a organizar grandes eventos agro.
Impacto econômico e social nas regiões
Receber uma etapa do campeonato significa muito para a economia local. Hotéis, restaurantes, oficinas, serviços de segurança e logística são movimentados. Além disso, produtores locais aproveitam o evento para mostrar suas marcas, produtos e até fechar negócios no paddock.
Não raro, feiras improvisadas surgem ao lado das corridas, com exposição de máquinas agrícolas, insumos e soluções financeiras. Isso transforma o autocross em uma plataforma de networking do agronegócio, além de entretenimento.
Patrocinadores e marcas no autocross
Por ser o esporte do agro, o autocross atrai patrocinadores ligados ao campo: empresas de sementes, defensivos, fertilizantes, concessionárias de máquinas e até bancos especializados em crédito agrícola.
Para Gian Pasquali, o desafio agora é ampliar o leque e trazer também marcas de consumo, telecomunicações e tecnologia, mostrando que o esporte tem apelo além do setor.
O futuro do autocross no agronegócio
Quando perguntado sobre o futuro, Gian foi claro: o autocross tem espaço para crescer muito. Os planos incluem:
-
Ampliação do calendário e criação de pistas permanentes.
-
Maior investimento em transmissão e mídia digital.
-
Consolidação como vitrine nacional do agronegócio.
-
Possibilidade de internacionalizar a modalidade, levando equipes brasileiras para fora.
Assim como o rodeio se tornou símbolo da pecuária, o autocross pode se tornar o grande símbolo esportivo do agro.
Conclusão
O autocross é muito mais do que corrida de carros em pistas de terra. É um reflexo da força do agronegócio brasileiro, reunindo agricultores que representam milhões de hectares de produção. Com organização profissional, transmissão digital e impacto econômico nas cidades, o esporte vem conquistando espaço e promete crescer ainda mais.
A visão de Gian Pasquali mostra que a modalidade está apenas no começo de sua trajetória. O barro, a velocidade e o agro formam uma combinação que faz do autocross um espetáculo único, capaz de unir tradição, comunidade e negócios.